sexta-feira, 8 de março de 2013

A tripla jornada das jovens mães, estudantes e trabalhadoras e a luta por igualdade


Maria Santana*
A Universidade é um importante espaço de poder e construção de conhecimento, que historicamente contribui para a reprodução de uma estrutura social capitalista, machista, racista e homofóbica. Neste contexto, a luta dos movimentos sociais organizados, em torno das mais diversas pautas políticas, tem cumprido o papel de incidir na transformação da universidade para um espaço mais inclusivo, diverso, democrático e popular. A partir da luta feminista dentro e fora da universidade, as mulheres representam, hoje, 55% do universo de estudantes universitárias/os, mas ainda é necessário romper desigualdades e violências. Precisamos romper com a concentração de mulheres em áreas do saber relacionada ao que, tradicionalmente, é considerado feminino (cuidar). Precisamos acabar com os trotes machistas, com a falta de políticas de permanência que atenda a diversidade das mulheres (mães, trabalhadoras, jovens, lgbtt’s, negras, indígenas, quilombolas, e tantas outras), com o pequeno número de mulheres professoras e dirigentes e com os currículos machistas.
Entender esta realidade é fundamental para construir o aprofundamento dessa transformação, principalmente dar condições para que mais mulheres estudantes, mães, trabalhadoras, negras e indígenas possam entrar na universidade, permanecer com dignidade e concluir sua formação.
Na sociedade em que vivemos, somos ensinadas/os a compreender a separação entre ser mãe e ter uma vida social e política ativa. Se muitos espaços são negados às mulheres, pouco sobra para as mulheres mães e suas necessidades específicas. É possível ser mãe, jovem e ter uma vida produtiva quando é dada condições para isso. O problema está em como a nossa sociedade encara a maternidade de maneira distorcida e opressora. A maternidade não é apenas responsabilidade das mulheres, elas não “fabricam” filhos sozinhas, os homens devem entender-se enquanto parte integrante disso e também responsáveis, não apenas financeiramente, pelas crianças geradas. Além das responsabilidades do Estado em garantir suporte para o pleno desenvolvimento de mulheres, homens e crianças.
Com a garantia de diversos direitos às mulheres mães, muitas dificuldades seriam superadas. No que diz respeito às jovens estudantes, há muita carência de formulação coletiva, e renovada, das pautas que podem trazer transformações para suas vidas, principalmente para as mãe. É preciso que o movimento estudantil feminista se debruce de fato sobre as dificuldades enfrentadas por estas mulheres nas universidades, que consiga trazê-las para espaços produtivos de debate e formulação, para além de repetir as palavras de ordem e o clássico mote “mais vagas nas creches das universidades”. Isso passa por uma auto-crítica profunda, por percebemos o quanto conseguimos mudar de fato a universidade, os espaços que estamos presentes a partir da nossa militância, mas que muito há para ser feito e não podemos ceder.
Sem dúvidas, mais vagas nas creches é fundamental para que as jovens estudantes mães possam entrar nas universidades e finalizar seus cursos, formando-se profissionais capazes de transformar também a sociedade onde vivem. Mas isso não basta, na Universidade Federal da Bahia, por exemplo, a creche universitária oferece apenas 11 vagas para berçário e 80 vagas para crianças entre 1 e 3 anos e 11 meses de idade. É inadmissível também a exigência do cumprimento de pelo menos 50% das matérias matriculadas pela/o responsável para manter a criança na creche. Isso faz com que a maioria das estudantes mães não tenham acesso a este direito, dificultando sua permanência na universidade. Se a UFBA e as demais universidades brasileiras tivessem uma política de assistência estudantil eficiente, dentro de um modelo socialmente referenciado de universidade, teríamos outro modelo simples de creche: com mais vagas, em tempo integral (pensando em como incorporar as estudantes mães dos cursos noturnos), com maior limite de idade das crianças recebidas, com as/os estudantes das diversas áreas, principalmente das licenciaturas, praticando seus conhecimentos neste espaço, o que garantiria, além da experiência profissional, suas bolsas para permanência na universidade. Outro modelo são as brinquedotecas nas unidades, onde as mães pudessem deixar seus/as filhos/as por períodos curtos de 2 horas (período de uma aula), estando mais próxima da criança, podendo amamentá-la e garantindo seu direito de estudar.
Outro ponto importante a ser pensado é sobre as estudantes mães vindas do interior, e até mesmo de outros estados do país. Como conseguir viver com seu filho em uma cidade diferente, em outra rotina, estudando, educando a criança, trabalhando, e recebendo uma bolsa auxílio moradia de apenas R$300,00? Em qual lugar da capital baiana podemos alugar uma casa decente e viver com esta quantia? Estas mães não são aceitas nas residências universitárias, que em sua maioria são machistas e opressoras. Por isso é fundamental defendermos a criação de residências especificas para mães estudantes. Nestas residências, as mulheres conviveriam entre si com mais facilidade, com maior solidariedade, compartilhando suas experiências e também seus problemas diários. Dessa forma, poderiam educar seus filhos e garantir melhor sua permanência na universidade e sua formação.
Tratando de residências universitárias, não é possível fechar os olhos para o que ocorre com as estudantes residentes que engravidam, elas, geralmente, são expulsas das casas de estudantes acentuando a situação de opressão em que as mulheres estão inseridas e dificultando mais seus processos de escolha e sua permanência nas universidades.
Mulheres estudantes enfrentam diversas dificuldades no seu cotidiano universitário, desde a educação que se depara na sala de aula, a forma como os professores se portam e conduzem suas aulas, ao tratamento que os colegas lhe dão nas salas e corredores. Isso se acentua quando os atores deste ambiente se deparam com uma jovem grávida ou uma jovem mãe. É contra esse tipo exclusão que o movimento feminista luta e deve continuar lutando. Para isso é imprescindível muito diálogo aberto e sincero, primeiro com as mulheres, depois com toda a comunidade universitária procurando educar os homens, e, além disso, muita mobilização. Ir às ruas é fundamental, ocupar os pátios das universidades, os jardins, as reitorias e onde mais for necessário para garantir que mudemos de fato o mundo para mudar a vida das mulheres para mudar o mundo. Essa é a viração que precisa ser construída, uma tarefa de todas as mulheres feministas, todos os coletivos do Movimento Estudantil, todas as entidades estudantis como os DCE’s, as UEE’s e da UNE.
Li um texto que dizia sabiamente: “Eu digo sempre que ser mãe traz um autoconhecimento que desbanca qualquer terapia, e é mesmo. A gente tem que olhar para dentro, encarar os próprios fantasmas, aceitar as próprias limitações e varrer as poeiras escondidas por baixo de todos os tapetes. É preciso coragem para mudar, revolucionar, crescer.”
Assumir a responsabilidade de ser mãe não é fácil. Ser jovem, estudante, militante, de esquerda, feminista e mãe é menos fácil ainda. E isso não significa que seja impossível, muitas mulheres vieram ao mundo para questioná-lo e transformá-lo. Ser mãe inaugura uma nova fase na vida de uma mulher, não a impede de ser tudo que ela anseie ser. Ser mãe é enxergar o mundo a partir de outra ótica, é pensar e principalmente praticar o feminismo de uma nova maneira. É sentir-se ainda mais forte e apta para mudar o mundo onde viverá a criança que conduz nele.
Um mundo sem machismo é também um mundo onde as mulheres possam optar por engravidar ou não, tendo acesso a informações confiáveis e métodos contraceptivos, onde possam optar por abortar seguramente ou parir seus filhos seguramente e sem violência. É um mundo onde as mulheres sejam de fato autônomas, livres e ativas, tenham suas diversas possibilidades de escolha e seus direitos garantidos.
É esse sentimento que devemos semear nesse 8 de março para cultivar no próximo período e colher grandes vitórias.
*Maria Santana é mãe de Anita (1 ano), estudante de Ciências Sociais da UFBa, militante do Coletivo As Quilombolas, da Marcha Mundial de Mulheres, do Movimento pela Humanização do Parto.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

III ENUNE: O Brasil após as políticas de Ações Afirmativas



O acesso a educação, assim como a valorização da cultura negra e o combate a discriminação étnico-racial, constituem os principais eixos organizadores das pautas reivindicatórias do movimento negro brasileiro,compreendendo a educação formal como um elemento instrumental na busca por neutralizar os efeitos nocivos da escravidão e no reposicionamento da população negra na extratificação social.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Cenas machistas do próximo capítulo

"Em muitos países do mundo a garota
Também não tem o direito de ser.
Alguns até costumam fazer
Aquela cruel clitorectomia.

Mas no Brasil ocidental civilizado
Não extraímos uma unha sequer
Porém na psique da mulher
Destruímos a mulher."
Tom Zé




Nunca foi um problema para mim dizer que gosto de novela. Sim, gosto. É um momento onde esvazio a minha cabeça e não penso em nada, coisa difícil em um mundo com tanto trabalho e luta pela frente, como o mundo de hoje em dia. Não é por isso que deixo de concordar com o papel alienante que as telenovelas cumprem na sociedade brasileira, e como elas reproduzem, de forma estereotipada e exagerada, as opressões e as explorações que afetam as mulheres brasileiras diariamente. Por isso não deveria me assustar com o André (Lázaro Ramos), de Insensato Coração, a nova novela das oito da Globo. Mas insisto em me indignar.

III ENUNE » Informações e inscrições para o III ENUNE



O Brasil após expansão das políticas de ações afirmativas: Desafios e novas perspectivas

A busca por uma sociedade altamente desenvolvida e plenamente democrática passa pela compreensão de que nos dias atuais ainda estão latentes as desigualdades medidas por indicadores étnico-raciais e de gênero, principalmente, no que tange ao acesso às melhores posições no mercado de trabalho e ao ensino superior brasileiro.

Quando racismo e sexismo se encontram na UNIJORGE

Carta aberta ao Movimento Negro, Movimento de Mulheres Negras e Movimento Feminista

Comunico às organizações de Movimento Negro, Mulheres Negras e Feministas que eu, Nairobe Aguiar, estudante do quinto semestre de História UNIJORGE, Centro Universitário Jorge Amado, fui agredida com uma tapa na cara por um colega, componente da organização do Simpósio de História “Pesquisa Histórica na Bahia” na referida faculdade.

Carta das Mulheres Estudantes Brasileiras

Carta das Mulheres Estudantes Brasileiras

Nós, mulheres reunidas no IV Encontro de Mulheres Estudantes da UNE, nos dias 21 e 24 de abril de 2011, afirmamos a atualidade da luta das mulheres e reafirmamos nosso compromisso com a luta pela superação do patriarcado, do machismo, do racismo e pela garantia da nossa autonomia e para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Reforma Política: mais mulheres nos espaços de decisão!

A luta por mais participação política das mulheres é pungente. Mesmo que a eleição da primeira Presidenta da República mulher, tenha tido um impacto simbólico para nossa sociedade, sabemos que isso apenas não basta para mudar a vida das mulheres. Nosso debate parte da compreensão sobre as tarefas e desafios para a luta feminista. Portanto, o debate sobre Reforma Política em cursoé de fundamental importância, garantindo que o processo termine com vitórias para as mulheres. Nesse sentido, a lista fechada com alternância de gênero e financiamento público de campanha são agendas comuns que possibilitarão um avanço para o aumento da participação política das mulheres nos espaços representativos.